sexta-feira, abril 15, 2005

Todas as palavras

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração, e não reconheci,
ou de súbito desisitiram
e partiram para sempre
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te ?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei esquecer o seu olhar?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que,
por um momento, foi feito o mundo
e que se foram levando o mundo. E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhas amantes sem desejos, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.




Manuel António Pina

3 Comentários:

Às 12:16 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

E que dizer perante esta foto...perante este poema?
Um sorriso basta...

Nopia
*

 
Às 9:14 da tarde , Blogger Garcia disse...

Que poema sublime... Por isso, vivo enamorado com as palavras...

 
Às 1:40 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Palavras para quê? Belo poema. Cada palavra tem o seu significado, cada um faz dela a sua interpretação, mas acima de tudo, é a palavra que nos traça o destino. É através dela que pensamos, sentimos... vivemos. E dela nunca me quero separar.

<3

 

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