Música que nos une
A sala de concertos sempre foi para mim uma espécie de Laboratório com retortas de som e complicados sistemas de ouvidos de névoa para cristalizar a Poesia. Ali, em comunhão passiva com os outros, a sentir o bafo atento das mulheres e dos homens (todos no fim de contas a ouvirem-se), a musica - por mais que eu me intimasse: ouve apenas!, não sonhes!, não imagines! - sempre me suscitou ideias, improvisos, palavras com sentidos de fontes, reportagens poéticas, exercícios, enredos mentais. Poemas, em suma, que geralmente nada têm a ver com as peças tocadas.Só por acaso coincidem. Nem poderiam coincidir, porque são a minha antimúsica.
A uma presença muito especial,
Que me importa que chova ou arrefeça
À minha passagem
se trago na cabeça
a ideia do luar
que estendo na paisagem
quando a noite chegar?
(E não há luar mais belo
do que esta música de concebê-lo.)
E no ar
o raio de sol que zumbe
a melodia de não haver trajectória...
Depois a carícia de pensar na morte.
Tudo parado.
Fixo.
Silêncio com memória.
José Gomes Ferreira
2 Comentários:
O José Gomes Ferreira diz tudo infinitamente melhor do que eu alguma vez seria capaz de o fazer!
No escuro caminho que vamos percorrendo há estradas desenhadas a pétalas secas que levam à luz, uma luz de velas perdidas, usadas, gastas, mas que deixam permanecer delas o calor da luz que antes levavam.
Um mapa percorrido, uma data saliente num calendário que é mais música e poema do que tempo real...
Abençoada seja a música, para sempre!
gaijo giro...aquele.
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