A Morte
Aprendi com a morte a paciência do tempo, uma paciência que sabemos ilimitada ou aquilo que chamam infinita. Mentir seria eu dizer que não esperamos, porque no fundo a espera faz parte da condição do tempo e, mesmo sabendo que a pessoa não volta, continuamos à espera de encontrá-la naquela esquina que sempre cruzava quando ia ao seu café, ou na longa mesa estendida sobre a família nos aniversários, no Natal, em todas essas datas que, com a ausência, perderam a magia. Por tanto esperarmos, ou por tanto querermos, não sei, existe um sopro em cada passo que damos e em tudo o que fazemos, ao qual intitulamos, humanamente ingénuos, de presença. Uma presença vincada em anjo protector que nos empoeira os olhos para sentirmos só mais uma vez quem amamos e já não está.
Hoje escrevo-te porque partiste e a tua ausência faz dos meus dias nevoeiro. E mesmo sabendo que não voltas, também eu te espero, em todo o tempo em que a paciência se fere e continua a vencer. Escrevo-te porque aprendi também com a morte que o tempo não cura nada, nem tão pouco nos apazigua a lembrança, cada vez mais precisa, cada vez mais urgente.
É no silêncio de mim própria que te grito e te choro para então, e aí sim, te desenhar mais uma vez em mim. E será assim. Sempre
Saudade*
2 Comentários:
não consegui deslindar-te o silêncio deste dia porque em mim não havia ruído para sobrepôr. O silêncio foi o ûnico ser presente em nós e por isso te peço desculpa*
"No voo de um anjo, onde flutuavas, desarvorou a dolência que tanto exorcizavas..." São imensas as palavras que usurpo ingenuamente dos dicionários, mas sem elas não conseguiria tatuar impetuosamente o que sinto nesta folha em branco...
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