segunda-feira, julho 10, 2006

Quase

"Eu sei quem és, para mim.
Haja o que houver."
.
Madredeus
.
É estranho tudo isto. Estranho de mim isto tudo. Não percebo o que faz dos meus passos mais largos se o chão é o mesmo. Nem o que me faz acreditar que o tempo diminui. E para que hei-de querer que o tempo diminua, se a seguir vem outro, mais, sempre o mesmo. Os dias não deixam de ser dias e as horas, horas. E eu acho estranho. Quero ir depressa para ser mais rápido, mas mais rápido o quê, se tanto fica por acontecer. E o que interessa é o que tem de acontecer e o que, efectivamente, acontece. Senão de que serve chegarmos mais rápido? Para ser, para contar o quê? E já agora, chegar onde se o futuro é agora.
É estranho isto. Isto de que falo ou de que não falo, ou isto de que falo mas não digo.
Mas não sei. Invento.
Condeno-nos.


New York by M.

Hoje estive quase a dizer-te

um plural.

O todo de um mundo.

Hoje estive quase a lançar-nos no escuro,

Atirar-nos com força

De encontrar ao tacto.

E reter dessa colisão o instante em que a película é escrita.

Guardar-te na foto. Reter-te a palavra na memória.

E mostrar-te que a imagem que retorna, às vezes

do corpo,

outras no porto

é a palavra vertida que fica de nós.

Noscturna.

Hoje desisti a tempo de te dizer o que já sabias...

De te falar sobre todas as horas fundas

que as tuas mãos tocaram

e eu deixei fora da fotografia.

De te contar sobre o todo de um mundo

Engolido por dentro

Devorado pela própria lágrima.

A do poema.

Hoje quis dizer-te

porque escrevo.

Minês Castanheira

1 Comentários:

Às 12:44 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

"... Por favor, inventa
as leis de uma alquimia que transforme
a matéria de um não na matéria de um sim
e dá-me o que te dou, o que não morre..."

Fernando Pinto do Amaral

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Um dos teus textos mais bonitos.. :)
Tás a regressar a ti pela escrita dos dedos :)


pilar|DE|ponte

 

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