quarta-feira, janeiro 11, 2006

Todas as palavras

E o que importa tudo isto, se o fim disto não for contigo?


As que procurei em vão,

principalmente as que estiveram muito perto,

como uma respiração, e não reconheci,

ou de súbito desisitirame partiram para sempre

deixando no poema uma espécie de mágoa

como uma marca de água impresente;

as que (lembras-te ?) não fui capaz de dizer-te

nem foram capazes de dizer-me;

as que calei por serem muito cedo,

e as que calei por serem muito tarde,

e, sem tempo, me ardem;

as que troquei por outras (como poderei

esquecer o seu olhar?);

as que perdi, verbos e

substantivos de que,

por um momento, foi feito o mundo

e que se foram levando o mundo. E também aquelas que ficaram,

por cansaço, por inércia, por acaso,

e com quem agora, como velhas amantes sem desejos, desfio memórias,

as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina

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