terça-feira, novembro 02, 2004

Donna Maria

A Música foi sempre para mim um espaço enorme entre a presença e o fascínio, desde cedo coberta de imagens e cheiros que me acompanhavam todos os momentos e todos os passos que sempre damos ao longo do tempo. Pode mudar a linguagem ou o estado, pode ser outra a cidade ou as mãos já envelhecidas. Passam as pessoas e é a Música que fica, sempre, seja ela qual for, como um símbolo eterno da breve passagem de todos nós por aqui.
Relembro hoje todo o percurso musical de que fui alvo, o Piano pelos dedos da minha avó às quartas-feiras à tarde, o adormecer diário enroscada no meu cão ao som da guitarra que o meu pai faz doer ou, até quem sabe, os eternos concertos de música clássica pelas Igrejas da Cidade, que na altura intitulava como enfadonhos e maçudos e, hoje em dia, agradeço por me terem dado a oportunidade de deles desfrutar.
Larguei o Piano, instrumento que aprendia na altura, com o pavor de ao avançar perceber que a música era parte de mim sem que eu conseguisse desvendar o seu Universo. Cobardia, eu sei, mas o que é certo é que a minha ternura a esta arte me faz temer a sua aproximação, como se a incógnita fosse, neste caso, mais fácil de suportar.
A vida dá, no entanto, muitas voltas e eu não fugi à regra. Acabei por me ligar mais ao mundo musical do que pude alguma vez imaginar e, embora na penumbra, percebê-lo e senti-lo um pouco mais de perto.
Não tenho nenhuma banda, não canto, nem tão pouco tenho a tal coragem de voltar a sentar-me em frente a uma pauta e deslizar os dedos pelo Piano, mas continuo e continuarei sempre o mais presente possível em quem tem coragem para o fazer.
É por isso que, hoje, aqui neste espaço, vos apresento aquela que penso que vai ser uma banda com muito sucesso. E não me refiro com isto a sucessos de bilheteiras, que esses também o Tony Carreira tem, refiro-me ao sucesso da aposta, da diferença, da luta pela imposição de um estilo, de uma personalidade.
E faço-o porque acredito, porque vi e ouvi as tantas noites de Templários em que o tempo cresceu e hoje se pode tornar eterno. Na Música.
Eles são os Donna Maria e dizem-nos que "Tudo... é para sempre" a partir de 15 de Novembro.
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Donna Maria é, sem hesitação, um dos mais interessantes projectos na moderna música portuguesa. Miguel Ângelo Majer soube ler as diversas realidades musicais, entre a urbanidade contemporânea e a tradição secular de, por exemplo, o fado e/ou a música popular. Desta junção estética, que nunca chega a ser "fusão", porque o todo é muito distinto das partes, nasce, não um pretensão de originalidade, mas uma sonoridade coerente com uma postura, essa sim, diferente na indústria musical nacional. E talvez o mais importante nos Donna Maria seja, para além de cada vez mais rara coragem ao honrarem a língua portuguesa, veículo fundamental para se distanciarem demodas, o facto de comporem canções no mais estrito senso da palavra: todas elas funcionariam desprovidas da produção que aqui, embora nunca se sobreponha ao formato, nos faz subetender que por baixo do instrumental subjaz uma melodia e um poema que funcionariam perfeitamente com voz e piano. Esse é o futuro da Pop portuguesa. Por ele passa indubitavelmente este surpreendente projecto.
Pedro Abrunhosa
(primeiro avanço do texto/análise que vai ingressar o booklet do CD)

3 Comentários:

Às 7:34 da tarde , Blogger sombra_arredia disse...

:)

 
Às 1:08 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Só espero que a música seja (e acredito que será) bem mais fácil de ler/sentir do que o esta análise profissional de músico, essa sim muito difícil de tragar!

 
Às 2:27 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

vejo que esse senhor é muito apreciado por aqui...bom gosto :-)

 

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