domingo, janeiro 09, 2005

Primeiramente

Acordo sem o teu contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, com a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor de uma madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca - e sempre a tua boca! - comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a minha face ao rosto lunar dos bêbedos e perguntar o que aconteceu...





Eugénio de Andrade

3 Comentários:

Às 10:25 da tarde , Blogger sombra_arredia disse...

8:)
*

 
Às 8:35 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

As almofadas e as mãos... hmmmmm :P

*

<3

 
Às 11:43 da tarde , Blogger Garcia disse...

De Castelo Branco, distrito tão nobre, surgiu um poeta de alma imensa e profunda. Sempre foi um dos meus poetas de eleição. " É urgente o amor, é urgente permanecer...".

 

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