sexta-feira, março 02, 2007

Olho-te e só eu sei.

Quando adormeces,
Nascem mil luas
No céu
E contas-me estrelas
De outras noites tão belas, na pele.
E a vontade aperta.
Fugir é certo,
Sentir-te mais perto,
Há tanta música escondida em ti
Agora.

Que desejos te arrancam ao chão?
Que vontades te fazem voar?
Há um sitio em ti
Para quem ainda não tem lugar.
Pedro Abrunhosa

Rua dos Mercadores

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido

com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro

do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga...
José Luís Peixoto

1 Comentários:

Às 2:50 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

"fingir que está tudo bem", uma máscara que se põe no rosto, um sorriso falso, um olhar que não se fixa senão na parede do fundo onde o horizonte se acaba por pequeno demais...

 

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