sexta-feira, junho 17, 2005

Fingir que está tudo bem

Fingir que está tudo bem:
o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas:
Fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos:
Fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte:
Fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
Auschwitz - Birkenau
Agosto @ 04




a tua ausência é. em cada momento, a tua ausência. não esqueço que os teus lábios existem longe de mim, aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.
mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.
aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver e para não chorar.
José Luis Peixoto

3 Comentários:

Às 2:07 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

"...apago lentamente o azul dos olhos, como quem fecha o mar para dormir..."

Xana

 
Às 3:32 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Também o fingir é uma "arte", quando a ela nos agarramos pra sobreviver



Sem__

 
Às 3:15 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

não é demais dizer que uma imagem vale por mil palavras.


vané

 

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