Uma força
Havia um rosto, de velho, de lágrimas galopantes que tentava saltar a cerca do jardim para o meu lado – via-se melhor. Num apertão de alma fui ao seu encontro e tentei segurar-lhe a dor por mais um instante, mas as pernas já sem movimento e a bengala viajante impediram-no de ver tudo mais de perto. Desapareceu dos meus olhos.
Passava das cinco da tarde, quando a multidão se cruzou com o céu, ou o céu com a voz, não sei. Foi impressionante. Uma união digna de um Homem do qual não vou falar aqui, as biografias ficam para depois, como ele assim o queria. Falar-lhe em fazer uma biografia, seria falar-lhe da morte e hoje, naquele mar de gente, falou-se de Álvaro Cunhal como nenhuma outra voz que não a deste povo jamais o saberá fazer tão bem.
Não quero deste texto o carácter noticioso, as notícias deste tema estão gastas, enroladas no fio da actualidade que se prende ao contexto da notícia que sucede a notícia. E a notícia é a morte. Quero a reportagem, livre e concisa do que foram os rostos, as bandeiras, os olhares, os hinos perdidos em tantos os cravos como a força da união. Quero rasgar esta pele jornalística que me persegue e me obriga a misturar-me com tudo o que “acontece” e escrever, e sentir, na louca solidão quase obsessiva de observar até o alcatrão da estrada coberta.
Independentemente da cor, do contexto, do tamanho ou do feitio, mas não independente da coerência admirada por tantos, ecoa dentro de cada um de nós a certeza de que há ainda uma força presa à luz derramada. Ainda há "gentes" que vibram, que suam, que chamam...
Quem esteve presente nesta despedida de hoje sentiu terminantemente o que é difícil reportar aqui na perfeição – ou não fosse o real indelével.
Passava das cinco da tarde, quando a multidão se cruzou com o céu, ou o céu com a voz, não sei. Foi impressionante. Uma união digna de um Homem do qual não vou falar aqui, as biografias ficam para depois, como ele assim o queria. Falar-lhe em fazer uma biografia, seria falar-lhe da morte e hoje, naquele mar de gente, falou-se de Álvaro Cunhal como nenhuma outra voz que não a deste povo jamais o saberá fazer tão bem.
Não quero deste texto o carácter noticioso, as notícias deste tema estão gastas, enroladas no fio da actualidade que se prende ao contexto da notícia que sucede a notícia. E a notícia é a morte. Quero a reportagem, livre e concisa do que foram os rostos, as bandeiras, os olhares, os hinos perdidos em tantos os cravos como a força da união. Quero rasgar esta pele jornalística que me persegue e me obriga a misturar-me com tudo o que “acontece” e escrever, e sentir, na louca solidão quase obsessiva de observar até o alcatrão da estrada coberta.
Independentemente da cor, do contexto, do tamanho ou do feitio, mas não independente da coerência admirada por tantos, ecoa dentro de cada um de nós a certeza de que há ainda uma força presa à luz derramada. Ainda há "gentes" que vibram, que suam, que chamam...
Quem esteve presente nesta despedida de hoje sentiu terminantemente o que é difícil reportar aqui na perfeição – ou não fosse o real indelével.
O velho surgiu a meu lado.
“A luta continua…”
“Até amanhã, Camarada.”
“Até amanhã, Camarada.”
4 Comentários:
Foi uma homenagem digna a um dos Homens mais importantes da história de Portugal neste século. Lutou e sofreu como poucos pela a liberdade do povo. O meu eterno obrigado.
<3
Imagem bela.
:*)
|*_____
Até sempre, Álvaro Cunhal
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