sábado, abril 21, 2007

Se olhar-te não fosse assim

Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir.

Bernardo Soares

olhares.com

Não sei se noutras culturas o pensamento é o mesmo ou se a mentalidade já superou as tradições que se colam a gerações e gerações sem que ninguém as questione. Mas por cá sempre me impingiram a ideia de que o tempo resolve tudo. Expressões como o “deixa lá isso que daqui uns tempos já nem te lembras” ou “epah sentes falta agora mais vais ver que com o tempo isso passa”.
Não passa nada. Utopias. É o hábito que engana aquilo que o tempo julga resolver. Todos nós somos animais de hábitos, acomodamo-nos e acostumamo-nos às situações mais inimagináveis. E poderia dar aqui mil exemplos disso, mas todos nós já passámos os mesmos contextos, em que há falta de uma cama há sempre o chão. E que chão me foge quando me apercebo que o tempo, afinal, não cura nada. Afunda o ímpar no quotidiano, como se os dias se mordessem de fúria, qual deles o mais saudoso de coisa nenhuma. E realmente vou-me domesticando à ideia da perda, da saudade miudinha que não, não morre, apenas se veste da pele tornando-se banal demais. É por isso que ao fim de meses, anos, achamos que afinal o tempo resolveu e nada sangra como dantes. É já banal a dor. O hábito. Esse conceito que rompes certeiro quando, posto tudo isto, surges e afinal és tudo ainda.

E afinal o tempo não resolveu os teus olhos dentro dos meus.

3 Comentários:

Às 3:22 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

" All alone
We're all alone...
We're all alone... "



Os velhos baús...sempre os mesmos e velhos baús arrumados lá no mais alto das prateleiras.
Nem a cadeado eles se deixam amortecer.
Eu não te dizia?



Pilar|de|ponte

 
Às 6:28 da manhã , Blogger zteanpgarhlitlhma disse...

Compreendo essa saudade. Talvez por isso sinta a necessidade de me insurgir no teu mundo, para te fazer uma pergunta.
Sabes, é que há muito que aguardo notícias da minha mana, e temo que o seu bater de asas não vença a insustentável leveza do tempo, que acabe um dia por cessar.
Escrevi-lhe há tempos uma carta , da qual não obtive qualquer resposta. A tua folha em branco pareceu-me um óptimo começo... Talvez ela te procure. Achas que me podes ajudar?
Antes de formulares qualquer juizo, por favor, visita o meu telhado e percebe a ânsia que coloco numa resposta à minha carta.(www.acriticadarazaopura.blogspot.com)

 
Às 10:35 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Gostei muito deste "recanto confortavel", obrigada pela viagem pelo meu blog, és sempre bem vinda ao meu "espacinho" passa la sempre que puderes e te apetecer.

Tens razao, ensinam-nos desde muito novos que o tempo cura a dor, mas digo-te, nao cura, a dor ainda penetra mais dentro de ti, e vai-te matando aos pouquinhos, como um veneno mortal, e doi, numa dor sufocante, e doi em cada respirar, em cada palavra, em cada suspiro, em cada lagrima, em cada madrugar, em cada luar, enfim o tempo passa e fico sem resistencias para lutar, presa por amarras fininhas que cedem a qualquer momento..
(um bocadinho negativista hoje, desculpa!) ;)
Um beijinhuh enorme!

 

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