quinta-feira, maio 28, 2009

Num vai-vem de solidão

Onde a sombra do poeta de repente nos abraça...



Quem dorme à noite comigo
É meu segredo,
Mas se insistirem, lhes digo,
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo.


E cedo porque me embala
Num vai-vem de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Gritar quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim
Gostava até de matar-me,
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

Amália

sexta-feira, maio 08, 2009

O que ainda houver

Será que ainda me resta tempo contigo
Ou já te levam balas de um qualquer inimigo
Será que soube dar-te
tudo o que querias
Ou deixei-me morrer lento
No lento morrer dos dias...?
PA
Foz Velha - Porto
Tenho de ti toda a miséria
Todo o mendigo engalfinhado
nas ruas.
Toda a fome, a insensatez
A desertora sinfonia.
Tenho de ti mais do que o tempo
A vontade a entardecer
Tenho a sombra do que é vão
E de tanto o pouco que ainda houver.

Tenho em mim a melodia
A cidade que nos balança tão sem querer
As esquinas que cruzamos, que entediam
E amanhã outra vida a acontecer.

Tenho de nós toda a tristeza
Todo o desnorte a suportar
Passo a passo o fio dos dias
O teu perfume a resvalar.
C.