domingo, abril 30, 2006

Porque se mente?

- Se te chamasses Catarina ainda eras mais bonita.
- Mas eu chamo-me Catarina.
- Eu sei. Tu não podes ser mais bonita.
- De onde é que eu te conheço.
- De nenhum lado.
- Porque me falas assim?
- Porque não sei falar de outra maneira.



Abril 2006 @ New York (taken by mOle)

Eu dizia-lhe que gostava muito dela. Ela dizia-me que me adorava. Nenhum de nós acreditava. Queríamos muito acreditar e não conseguiamos. Fazia doer. Então começávamos a provocar-nos com palavras, frases violentas para que doesse com motivo para isso. E não acreditávamos. Não havia maneira. Diziamos asneiras, fazíamos asneiras com o que estava à mão, com os corpos principalmente. E no dia seguinte sentíamo-nos cansados e tristes, embora começássemos por dizer o contrário. As coisas tornavam-se impossíveis, os corpos esgotam-se tão dificilmente. Parece também que não mais acabam. Mentíamos e depois chorávamos. Baixinho, falsamente. Nem as lágrimas nos ajudavam. Não havia maneira. Apenas continuar até que alguma coisa acontecesse e parasse o que nós não conseguiamos. Alguma coisa. Por favor só mais uma vez, dizia um de nós ao outro e continuávamos.

Pedro Paixão

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World, hold on

Instead of messing with our future

Tell me no more lies

World, hold on...

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Bob Sinclar

quinta-feira, abril 20, 2006

Querer-te

Vou depressa enquanto fico.


Museu do Louvre, Paris @ 04


Futuro entre os gregos seria
Se despisses os mantos azuis e viesses
Descalço e nu com o sabor das peles
Pela calçada
E vestires-te do cheiro
Que bailamos os corpos
Qual seda usada.

Futuro seria a sombra do teu medo
Canta Porto, é quase nada
Salta sopro à Afurada
Ao encontro do segredo.

Seria o beco estreito da maré
A canção que será tudo
Ou talvez não, ou talvez eu
A pele rasgada e o olhar mudo.

Futuro serias tu em passos lentos
Conforme os beijos mas sempre em mim
Os abraços largos do desejo com um tempo
Tempo de estar
Devagar para que não viesses
Mais depressa que o ficar.
C.

segunda-feira, abril 17, 2006

"Há distâncias sem perdão..."

Que de leve o respirar se fizesse Porto. E o Porto todos os dias entre o corpo e o amanhecer.



Pede-me, que eu consinto. Olha-me, que será teu.
De resto amanhece já.
Prepara a sombra que vamos de partida.
No mato o resto da noite despedida.
Agarra agora a minha mão que o meu segredo é já teu,
e se canção houver,
canta-a amor,
que a tua voz serei eu
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P. Abrunhosa
Obrigada*

terça-feira, abril 11, 2006

Cumplicidades

Eu a convencer-te que gostas de mim,
Tu a convenceres-te que não é bem assim.
Eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.

Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar para esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.


Desviando os olhos por sentir a verdade,

Juravas a certeza da mentira,

Mas sem queimar de mais,

Sem querer extingir o que já se sabia.

Eu fugia do toque como do cheiro,

Por saber que era o fim da roupa vestida,

Que inventara no meio do escuro onde estava,

Por ver o desespero na côr que trazias.

Era eu a despir-te do que era pequeno,

Tu a puxar-me para um lado mais perto,

Onde se contam histórias que nos atam,

Ao silêncio dos lábios que nos mata.

Eras tu a ficar por não saberes partir,

E eu a rezar para que desaparecesses,

Era eu a rezar para que ficasses,

Tu a ficares enquanto saías.

Não nos tocamos enquanto saías,

Não nos tocamos enquanto saímos,

Não nos tocamos e vamos fugindo,

Porque quebramos como crianças.

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Afinal... Quebramos os dois afinal. Quebramos os dois afinal. Quebramos os dois...

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Toranja