domingo, janeiro 28, 2007

O amanhecer

Já era manhã e os teus olhos tardavam. Ao olhar-te sei que nada mais nos poderemos dizer. Nunca o silêncio nos foi tão fiel. Nunca o deserto tão cúmplice ao desejo que findou.
Levantei-me devagar. Vou deixar-te depressa para que fiques para sempre.

- Onde vais?
- (Já cá não estou).

É melhor assim.




Olhares.com

"Alguém murmurará então o teu nome,vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página."

Maria do Rosário Pedreira


segunda-feira, janeiro 22, 2007

Eu te amo (Tom Jobim)

Porque sim. E rolamos a estrada que não acaba.

Nadir Afonso






Ah, se já perdemos a noção da hora


Se juntos já jogamos tudo fora


Me conta agora como hei de partir.






Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios


Rompi com o mundo, queimei meus navios


Me diz pra onde é que inda posso ir


Se nós, nas travessuras das noites eternas


Já confundimos tanto as nossas pernas


Diz com que pernas eu devo seguir.






Se entornaste a nossa sorte pelo chão


Se na bagunça do teu coração


Meu sangue errou de veia e se perdeu


Como, se na desordem do armário embutido


Meu paletó enlaça o teu vestido


E o meu sapato inda pisa no teu




Como, se nos amamos feito dois pagãos


Teus seios inda estão nas minhas mãos


Me explica com que cara eu vou sair


Não, acho que estás te fazendo de tonta


Te dei meus olhos pra tomares conta


Agora conta como hei de partir.

domingo, janeiro 14, 2007

Que medo de te saber em mim...


Tenho a voz em sangue
O grito seco do canal que embriago.
Tenho o teu nome encurralado
Por aí.

Tenho a voz em sangue
Guitarras presas ao som do metal
O metal preso ao silencio dos dedos
As noites que não me dizes.

Tenho a voz em sangue
Qualquer poema é mortal
Tenho os teus medos aqui
Também eles saudade
Também eles Porto.

Quero-me aí.
C.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Ano "Novo"...

"Só vais ser feliz no dia em que fizeres o que realmente queres..."
AR


Tempo

Ocre é o rio, revolvendo lamas, detritos de uma geologia que desperta do seu longo sono. Esta cor, terá ela um rosto, um mapa contaminado de biografia e sangue? Tu, permaneces na sombra, recolhes o teu crédito. Evoco-te. Segues a linha de água. Falas de tempo. O que é a eternidade? Haver fósseis de peixes nos Himalaias. Falo-te de tempo também. Este rio de Outubro, este rio ocre desliza no seu leito até ao náufrago espectáculo do que recordo. Percola. Revolve areias. Devolve-me o eco de caminhar junto a um rio e ter voz para dizer a duração. Nada sei de ti. Vaga é agora a tua imagem. O ocre do rio será uma beleza armadilhada? O que quis ver permanece invisível, e nenhuma relação há entre a cor do seu caudal e a evidência do teu legado.
Luís Quintais
in
Canto Onde