terça-feira, outubro 25, 2005

Eu que por ti...

Quem me dera ter feito este dia eterno no nosso abraço. De certa forma assim aconteceu.
Há momentos que não se esquecem...




O orvalho quente
Como se fosse suspiro
Muito levemente, de vez em quando
O teu perfume sobre a ferida
Os dedos sobre o sangue
O dia seguinte ao dia.

Veloz o bater-te nos braços
Rasgos nulos em traços
Se pudesse ser assim

Um instante mais de vida
Um sopro além do teu
A presença adormecida
Em que me sonhes o céu.

Quantas mais peles
Desfeitas no teu rosto
Defesas de encontro ao espelho
Eu que por ti sofreria
As lágrimas do mundo inteiro.


domingo, outubro 23, 2005

Como se fosse secreto...

Porque há choros secretos demais,
tão perto do vazio
quase sombra do silêncio.



Casa da Música @ Porto @ Taken by mO.

Adormeces então devagar

E nos teus braços

Há sempre lugar.

Deito-te comigo neste chão,

Sinto que respiram

Por entre as mãos

Os teus olhos de Anjo,

Como se fossem eternos,

Os teus olhos de Anjo,

Os teus dedos de Anjo,

Como se fossem silêncio

Os teus passos de Anjo,

Como se fossem sagrados,

Nesse teu choro de Anjo,

Como se fosse secreto...

Pedro Abrunhosa

sexta-feira, outubro 21, 2005

Corpo nu

Só olho para o céu
nas noites da lua despida
para atar os olhos nas estrelas
e ver melhor de lá a Terra e a vida.



Traços de Siza Vieira; Fundo de Thomas Shutte @ Serralves

A Terra dos braços dos teus rios.
A Terra dos olhos dos teus lagos.
A Terra do corpo do teu mar.


A Terra em que apetece ser crepúsculo
para adormecer e sonhar.
J.G.Ferreira

segunda-feira, outubro 17, 2005

Sussurro

_

-_-

_

-_-

E até nos momentos em que digo que não quero
E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.

_

-_-

_

-_-

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu...

-

-_-

-

-_-

Só para dizer que te amo...
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
_
Carlos Tê

domingo, outubro 16, 2005

Ao pé de ti



Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos frias
e esta ternura dos olhos que se dão.
Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guias
e baixinho ao bafo da tua respiração
constar-te todas as minhas covardias.
Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.
Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicação de luas e saliva.

José Gomes Ferreira

terça-feira, outubro 11, 2005

Always here

A ti,
Porque há-de ser sempre assim.


You can call me, I’ll be right there

Não tenho muito mas o pouco que tenho é teu
Se mais ninguém te ouvir quem te ouve sou eu
E quando ‘tiveres triste e só , com falta de um amigo
Fecha os olhos não temas porque eu vou estar aqui contigo
Eu sei que pensas muitas vezes que queres fugir
Eu sei que gritas e não tens ninguém para te acudir
Vida madrasta nada corre como a gente quer
Tens que enfrentar o destino para o que der e vier
Ao meu alcance faço tudo o que poder para ti
Peço desculpas pelos erros , sei que os cometi
Não vou julgar-te porque também eu posso ser réu
Não vou julgar-te porque tem te julga está no céu
Quero que saibas que podes contar com o meu amparo
Amizade pura é um sentimento cada vez mais raro
Conto contigo para fazeres o que faço por ti
E quando nada correr bem eu estou aqui

Se precisares de mim eu estou aqui
Quando quiseres falar eu estou aqui
Se te faltar um amigo eu estou aqui
Se precisares de alguém eu estou aqui


.

Tantas as coisas que juntos fizemos tu e eu
Custa a crer mas a verdade é que o tempo correu
Nem sempre é fácil ás vezes frases magoam
Sem deixar mágoas porque amigos são os que perdoam



Alguém para falar, sempre pronto a escutar
A mão que se estende , a mão que te ajuda a levantar
Quem te corrige quando tu não sabes o que é certo
Quem te dá água quando te perdes nalgum deserto
Sempre por perto sempre pronto para chorar ou rir
Quem te conhece e sabes quando tu estás a mentir


Não sou perfeito mas sabes que sou sincero
Nunca te esqueças de mim aqui é tudo o que eu quero
E espero que nada nem ninguém nos faça separar
Conto contigo , comigo podes sempre contar...

Eu estou aqui


You can call me, I’ll be right there

Boss Ac

"Eu ´tou aqui"

segunda-feira, outubro 10, 2005

Avó...

À minha querida Avó,


Van Gogh by Lurdes Henriques

Nunca tirei proveito do acto de te escrever. Renovo no tempo uma constante ferida cujo fingimento se sobrepõe, infelizmente, a qualquer cura uma vez possível.
Que te vou eu dizer agora, que o cheiro dos dias te levou à traição para um qualquer rasgo negro e oblíquo. Que palavras, mais fortes que o desejo de te ter aqui e deixar-me acontecer-te em todos os meus gestos de crescimento, de maturidade, de uma vida cujo caminho me indicaste, partindo cedo demais.
Não me chegaste a ver ontem, hoje, amanhã, agora. Queria que me estivesses a ver agora, na doçura infinita do teu colo sem idade em mim. Qual vento mais forte faz calar o Piano que embalavas junto à minha teimosia, ou o pincel carregado de cor que admirava horas a fio, correndo com ele, quase mundo, sobre a tela.
De que me adiantam agora as lágrimas por detrás da lembrança triste dos teus olhos, a adivinhar a saudade. Às vezes, ao recordar-te, tenho a sensação de que carregavas em ti o peso de saber que podias partir a qualquer momento. No fundo todos podemos, mas em ti a vida era força, o respirar à luz do teu fôlego inigualável. Tudo existia por ti, ou tu tudo fazias existir, e agora por isso o sofrer-te seja assim, qual horizonte sem chão.
Talvez nunca tenha sabido escrever-te. Sabido dizer-te. Ainda hoje estremeço cobardemente nas linhas que me são bambas. Nada disto me faz sentido…
Desculpa se não consigo admitir que me faltas todos os dias, em tudo. A morte nunca foi fácil. Nem tão pouco esta dúvida eterna de que se tivesse chegado mais cedo ainda estarias hoje viva nos braços em que ficaste.

Um beijo no céu*

domingo, outubro 09, 2005

Passos calados

Serralves o5 @ Taken by mO.

.

.

Podemos começar por qualquer lado que tanto faz. Havemos de chegar lá. Não me perguntes onde. Quando chegares saberás. Agora é cedo para perguntares.

Ouve só.

.

.

Pedro Paixão

sexta-feira, outubro 07, 2005

Ironia genial!

Gaudi
Ah é!
Na genialidade
Que tudo flúi
Só se cortam as mãos
À razão que pensa
E depois? Oh!… e depois
É tudo perdão
Para que o génio vença!
Já te rasgou a pele
Sem praça publica e no porquê
Já se fez mel
Luz,
Que ninguém vê.

E depois tropeçou
Queimou o desgosto
Há tragos vadios que rasgam o amor
Como os anos, as páginas
Os desejos esquecidos no rosto.

segunda-feira, outubro 03, 2005

As horas aconteciam, ou assim se costumava inventar, quando era da nossa presença que se tratava. Tínhamos sempre mão a mão um risco por dizer ou um passo por dar, mesmo quando o inferno se tornava constante em teu redor. As vozes venciam-se, os beijos calavam a amargura dos dias em que nos bebíamos pelo cruzar de esquina dos olhares humedecidos.
Hoje encontrei-te reflectido pelas mesas escritas de saudade, entre o já dito e o repensado até à exaustão. A tua pele estendida nos meus dedos de ausência e cristal, encostados à dor mais indizível que o tempo, qual sopro tirano que me afasta de ti. Encontrei-te pelas ruas em que pernoitavas e nunca as tuas lajes foram aquelas. Mais distante, mais frio, aquele que era o regaço cheio de nós.
Hoje despi-me em ti, na ausência que me balança o choro distante, enquanto te peço calada que voltes….


É em ferida o pensar-te longe.

Paris o4 @ Vista da Torre Eiffel

Não sei de ti
mais do que as horas
das manhãs,
o sabor da bruma
nas manhãs
e a luz pequenina
que o céu
deixa desenhada
em ti.

Não sei de ti
Mais do que o cheiro do teu perfume
E a memória
Que deixas
Com ele nas
Minhas mãos
Quando te vais.

Não sei de ti
Mais do que
A ausência
E o teu vazio
Quando partes.

A tua sombra
É enorme
Quando não estás.

Alexandra Malheiro

"Não sei de ti"