terça-feira, agosto 29, 2006

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.eu sei exactamente o que é o amor. O amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.o amor é ter medo e querer morrer.

José Luís Peixoto

olhares.com

Sempre que volto à tua voz é a ternura que se afaga em mim. Quanto tempo entre os teus versos e o universo que nos separa. Quantos serão os sonhos que não escrevo nas noites em que só o teu corpo balança o meu, quase canção. Não te toco enquanto as horas se espraiam ao ver-te dormir. É doce e fundo nos teus lábios de menino cortante que aconteço cada curva do amor. Todos os regressos serão feitos entre as linhas que me escreveste e os poemas que nos vincaste. Qual mulher despida se a espera nos arde o prazer.
Quero-te mais longo este tempo, esta fúria secreta de não te poder - enquanto anjos de luz se vestem de nós. E eu não sei até quando, se ao silêncio ainda cabe o desejo.
E ao desejo todo o amanhecer.

domingo, agosto 27, 2006

Manchetes

"Amar-te é vir de longe..."
Pedro Tamen

By Xana

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“ - Sou eu! Mas não o digas,
E ele olha-a fixamente nos olhos…”
Vítor Hugo



Não te conforto o desejo amarrado
Nem te dou as páginas humedecidas
Não sei vincar as golas ao recado
Às portas do teu quarto sempre despidas.

Não te quero em rasgos minguantes
Compassos que atropelam a ordem do dia
Nem te sei nas horas rasantes
Na pele que a tua mão sem querer dizia.

Não quero ser manhã e escurecer
No teu beijo traído entre caos
Não quero a redenção para encher
Mil e uma manchetes nos jornais.
Folha em Branco

quinta-feira, agosto 17, 2006

Sul

(...)
Fiz o que pude para justificar o privilégio que tive. Trouxe comigo o que podia para partilhar com os outros: filmes, fotografias, relatos, mapas, instruções de viagem. Certas coisas não pude dividir nem contar, porque eram impartilháveis: os cheiros, o sabor da comida, a poeira e o cansaço acumulados, essa desesperada nostalgia depois de cada regresso. Outras coisas ainda deixei lá, porque não podia trazer: são coisas que viajam comigo para sempre e cuja memória há-de morrer comigo - os amigos que encontrei e nunca mais vi, os espaços, os silêncios, as estrelas no céu e outras coisas como o medo, a alegria, a solidão, a descoberta.
Nem sempre viajei para Sul, mas nada vi de tão extraordinário como o sul. O Sul é uma porta de avião que se abre e um cheiro inebriante a verde que nos suga, o calor, a humidade colada à pele, os risos das pessoas, o ruído, a confusão de um terminal de bagagens, um excesso de tudo que nos engole e arrasta como uma vaga gigantesca. Apetece fechar os olhos, quebrar os gestos e deixar-se ir. Mas é justamente neste caos que eu procuro a lucidez do contador de histórias.
Miguel Sousa Tavares

Olhares.com

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"As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri."

Sophia de Melo Breyner Andersen

sexta-feira, agosto 11, 2006

De: hoje |||| Para: amanhã

Eu não era assim. E quando me falam em influências de signos, Luas, ascendentes, acredito e reconheço-me em muitos traços que não domino, mas acabo por me render à ideia de que a vida faz as pessoas. E as pessoas fazem-se na vida. Posso escolher, mas não posso completar a decisão entre os mil e um factores que boicotam o querer. E todos os dias cabe-me a mim mudar um pouco para ser melhor e não ser assim porque sou assim. Já fui diferente, qual tempo em que o pisar ousado me fazia não querer o caminho. Tempo de mãos sempre seguras e abraços perfeitos em que as cores dos dias eram a pura realeza. Não foi aí que cresci e foi daí que quis sair. A viagem, a experiência como primazia de todo o conhecimento. Virei apologista de que tudo deve ser vivido e, se hoje há chão e céu, quem sabe amanhã uma suite presidencial, o contraste para nos fazer perceber que o mais fugaz é o que fica para sempre. E para sempre a ideia e o lema que faço da minha vida, hoje, que mudei percebi que não tenho de viver cada dia como se fosse o último, mas sim como a permanente conquista do amanhã.

"Só que amanhã - tu sabes bem - é sempre longe demais..."