sábado, agosto 25, 2007

Um caminho...


Vou morar para o Porto.

A afirmação é dura e repentina como não poderia ser de outra maneira. Não consigo dizê-lo senão de forma imponente, quase em desvio à própria lucidez. Não acredito em sonhos de uma vida, mas acredito em desejos, vontades, caminhos que levam ao completo. Este será um deles.

Quero sentir na pele o suor gasto das gentes que povoam aquela cidade. Cumprir horários, correr transportes públicos, fugir à noite para um Jazz calmo entre amigos. Quero sentir o mar da Foz a acordar-me Sábado de manhã e dizer-me que um café arrefece por perto. Quero discutir com a minha própria solidão, quem vence, quando a saudade humedecer o quarto. Quero amar e sofrer nesta cidade. Partir e chegar. Com a mesma leveza de quem aposta uma vida num regaço.

Um dia hei-de começar um romance com esta frase. Vou morar para o Porto. E nunca o saberei dizer de outra maneira.


E eu sei que tu, avô, te orgulharias disso.

Fica comigo. Até já.
C.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Paisagem demorada


Hoje descobri que tinha uma parede cinzenta no meu quarto. Que os gestos se desfaziam em pinceladas garridas enganando o frio. Descobri no batuque do tempo porque dou por mim a pensar entre mil coisas em que momentos sou feliz.

Faz-se uma pausa. Quilómetros apertam a estrada. Circulo sozinha entre o asfalto e o pregão e depeço-me como quem pede dois olhos negros que ainda agora me suavam a paisagem demorada.

Hoje fugi do sonho como quem peca por ser esquiva. Entreti-me mar dentro com o peso das mãos suadas de te querer e acabei por pousar descalça a velha história de que o "segredo" se faz assim. Deixa-me que eu resisto. Só quero o peso do que nos dissemos sobre o meu corpo. É meu. É de ti a dúvida primária da relação.

Hoje descobri que tinha uma parede cinzenta no meu quarto.