quinta-feira, março 31, 2005

Taken by Sister @ Porto



E quantos desvios antes do fim?

domingo, março 27, 2005

Mao|na|tua @ Pablo Picasso Posted by Hello

Ausência

Às vezes ouvias-me. Estavas sempre debruçado na varanda quando eu chegava, entre uma agulha e outra que se mentiam de vez em quando num ponto mais ao lado. Levantavas os olhos por detrás dos óculos que te vestiam a face de negro. Olhavas-me pelo pouco tempo que bastava e nada dizias.
Falava, despia-me inteira ao corte da ausência de que filmava os dias longe de ti. Não sei que relação ou que maresia me faziam percorrer tanto da estrada que me mordia, para chegar ali e tu não falares. Talvez de bom fosse o reflexo da minha voz em ti, como se as palavras ditas ao teu lado ganhassem maturidade na magia, e se aclarassem no meu universo. Era estranho.
De vez em quando, nem todos os dias, traduzias dos olhos a ternura já gasta, como que num acto inconsciente para eu te ter. Apagavas a vela com as mãos, deixando que a noite não ficasse vincada em lado algum, até o cheiro ardia.


Marginal de Leça da Palmeira


Às vezes ouvias-me. Mas era difícil o corpo abraçado à Lua enquanto o resto se perdia. Nem sempre porque se querer, mas porque o tempo deixava de ter tempo de existir.
Tardei-te na ausência sem que nunca me apercebesse o quanto o teu breve olhar me precisava. E se algum dia me perguntei se te sabia, logo a resposta me fugiu.
Hoje, quando cheguei, já não estavas. Prolonguei as lágrimas pela vela que quiseste arder, enquanto esculpia, num acto louco, o teu corpo nos meus dedos.
Preciso de voltar a escrever-te, dizer-te que eu choro quanto te leio nas minhas mãos e logo te pernoito na ilusão. Porque afinal ouvias e estavas. Sempre. E hoje há algo em mim que não tolera que o último beijo não seja mais a tua voz.

Será que voltas?

Alguém em mim que não aquela que conheces

sexta-feira, março 25, 2005

Estou além

(...)
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci (...)




Vou continuar a procurar

O meu mundo


O meu lugar...

António Variações

quinta-feira, março 24, 2005

Hora de almoço

"Sempre me comparei a quem não devia,
E por ser tudo tão mais tarde que o dia
Não sei eu agora anoitecer..."

segunda-feira, março 21, 2005

Sem nome

Talvez por não saber falar de cor imaginei
Talvez por saber o que não será melhor aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós
Sei lá eu o que queres dizer
Despedir-me de ti, adeus um dia
Voltarei a ser feliz.

Eu já não sei o que é sentir o teu amor
Não sei o que é sentir
Se por falar falei, pensei que se falasse
Era fácil entender.

Talvez por não saber falar de cor imaginei
Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que quero dizer.



Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim
Olhar para mim e escutar quem sou
E se ao menos tudo fosse igual a ti.

É o amor que chega ao fim
Um final assim assim
É mais fácil entender...
The gift
in
AM

sexta-feira, março 18, 2005

Blogs Paralelos

Há momentos que se cruzam, como as palavras que sempre me dás perto do sonho. Outro dia cruzei-me contigo, falei-te de olhares sem que percebesses e ao sorriso deixei-te uma linha interminável cheia de nós. É vermelha, por acaso. Poderia ser de outra cor qualquer. Talvez azul.
Tu sabes porquê.

À Xana,


Linha Vermelha II


Não há sonhos derramados
Antes da escuridão
Mas há, nos teus olhos
Peitos chorados
Ao redor da multidão.

Atravesso demais para que possa
Ser sombra e maré dentro de ti
Arrisco o passo para que esteja
Entre a linha vermelha
E o nada que te sorri.

Há versos na angústia desmentida
Um abraço que morre desfeito
Sobe ao azul, e logo é minha
A tua dor selada ao peito.

De todos os caminhos
A linha é igual
Vermelhos os sentidos
Antes de te perder
Do outro lado do sorriso
Quem te precisa...
E te obriga sem pressa a amanhecer...

C.

terça-feira, março 15, 2005

Pele suada

Matosinhos

Não sei falar de amor senão falando dele. Porque não posso senti-lo, nem quere-lo mais do que aquilo que me dá. E não dá. À fuga junta-se o eterno olhar circunscrito numa escuridão que já nenhum de nós domina. Perco-te sempre que te encontro e quem me dera que um dia, talvez depois do tempo, me soubesses ler.
E ter.


Se soubesses todos estes gestos
Mais longos que a própria nitidez
E depois, eu arrumasse os manifestos
Raízes vencidas
Ou a minha nudez.

E se a pele não ardesse
Toco-te. Não sei
Como se nada acontecesse
E de mim só tu
Como a esfera e o desdém.

Ai se eu soubesse
Guardar-te o grito sem sofrer
E mais tarde, e mais longe
Deixar o verbo permanecer.

Amor. Talvez tudo isto
O negar-te sabendo
Que bebia da tua pele,
do teu cheiro
Como um amante escurecendo
À luz do dia inteiro.
Clara 14.03

quarta-feira, março 09, 2005

Escuridão

Zumbia o teu sopro e eu ficava, fitando a luz na escuridão.

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E se eu pudesse fechar-me nos teus braços
Como sombra dos regos
E talvez do existir.

Quem eras
Quando entrámos lado a lado ao anoitecer
Numa varanda esculpida
Numa cidade qualquer.

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"Porque não sei como dizer-te sem milagres Que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,

que te procuram."

Herberto Helder

terça-feira, março 08, 2005

Não mais

Não mais a madrugada por nós fora,
Não mais o vento em nós enternecido,
Não mais o peito a arder-se na demora,
Não mais a harpa incauta do existido.


Nas veias do silêncio que perdemos
A cada verso novo em nós sentida,
Nas asas que outras são e que não temos
Em cada espaço por nós consentido.




Não mais uma palavra insensata,
Não mais a insana, a louca e vã bravata,
Não mais demoras fixas no desejo,
Não mais perdão nem sombra por desfecho.
Na solidão sozinha das palavras
Tão castas, tatuadas, estão na pele,
Tão breves, tão despidas, tu as lavras,
Na hipnose branca e virgem do papel.

Alexandra Malheiro
in
A urgência das palavras

domingo, março 06, 2005

Budapeste @ 04 Posted by Hello

Uns versos

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo



__ Sou o que a sombra das palavras te lembrarem em cama fria.... Entre o que o tempo não encerra e a força do abraço, em alguém, de mãos fechadas, para que possa existir. Sou.__


Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele,
O seu casaco
Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o sou paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo
E depois rasgo.

Adrianha Calcanhoto

Cafés




Self-portrait @ Taken by Sister
Entrei no café com um rio na algibeira
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
José Gomes Ferreira

quarta-feira, março 02, 2005

RoSe_


RoSe_

O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo, mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.

Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,que eu amava quando imaginava que amava. Era a tuaa tua voz que dizia as palavras da vida.

Era o teu rosto. Era a tua pele. Antes de te conhecer, existias nas árvorese nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde. Muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.

José Luís Peixoto


"E porque não minto, sou um labirinto."

José Gomes Ferreira