terça-feira, janeiro 31, 2006

O eco da tua voz

Quando se parte há um recomeço. Um gesto prolongado na força do tempo. O teu jeito é assim continuado ao que é de mim, tão mais forte que o aconchego.

Quando me sobressais
Tímido.
Nas linhas do meu contorno
A tua voz que desvio
Dos ecos ao meu retorno.


O teu constante,
Vezes demais
Os passos largos na madeira
São versos dos mesmos instantes
Da tua sombra extensa
Aos meus meses rasantes
E os círculos em que a espera
É derradeira.


Talvez um dia depois de mim
Talvez um dia sem ser por nós
Um tempo recortado à palavra não dita
Um tempo ditado pelo eco da voz.

C.

"...não sei porque escrevo,

se o que escrevo é dito a mim..."


quinta-feira, janeiro 26, 2006

Paralelismos

Contextos. Encontrar o paralelismo entre as letras e as imagens. Deixar-me ser qualquer presença para que me encontre, um dia, no que já fui.

Encontrar fora de mim o que não é
A exigência que descalcei
Numa e outra porta
A que bati
E não me dei.


Fugir-te dos lábios quando me querias
As roupas rasgadas
Os teus dedos em feridas
Mais do teu amanha
Em mim
Mesmo distante ao que quero,
O seres assim.



Rui Marques (Olhares.com) @ Ponte da arrábida - Porto
Regressos
Ao dia presente
Às horas iguais
Sempre que te peço
E te perco
E me obrigo
O passo em frente.

Para nunca mais.
C.

terça-feira, janeiro 24, 2006

24 de Janeiro

"Quando te conheci achei que eras um poema..."



Sintra & Porto

Quero escrever-te um poema que tenha
um sentido claro
como o que os teus olhos me disseram.

Poderia ser um poema de amor,
tão breve como o instante em que
me deixaste ver os teus olhos.

Mas o que os olhos dizem não cabe
num poema, nem eu sei como se diz o amor
que só os olhos conhecem.

Nuno Júdice

domingo, janeiro 22, 2006

Ruas...

Encostar na tua



Taken by nopia @ Porto/Foz 2001


Eu quero te roubar pra mim
Eu que não sei pedir nada
Meu caminho é meio perdido
Mas que perder seja o melhor destino.

Agora não vou mais mudar
Minha procura por si só
Já era o que eu queria achar
Quando você chama meu nome

Eu que também não sei aonde estou
Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for
Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

Que saiba que forte eu sei chegar
Mesmo se eu perder o rumo
Mas saiba que forte eu sei chegar
Se for preciso eu sumo

Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

Ana Carolina

sexta-feira, janeiro 20, 2006

O poder dos cidadãos

É preciso um país




Não mais Alcácer Quibir.
É preciso voltar a ter uma raíz
um chão para lavrar
um chão para florir.
É preciso um país.

Não mais navios a partir
para o país de ausência.
É preciso voltar ao ponto de partida
é preciso ficar a descobrir
a pátria onde foi traída
não só a independência
mas a vida.

Manuel Alegre
Momento de reflexão: "Está nas tuas mãos o poder dos cidadãos!"

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Give it back

Da música às palavras um segredo feito estrada. Ontem. Enquanto tudo era silêncio dentro de nós e só as ruas se inquietavam à pele dos nossos passos.
Porque através desta voz talvez tudo isto faça sentido... *




Give it back
You hijacked my mind so
I’m falling in circles
Can’t catch my fall so
I need you to be close ‘cause
Where you go I’ll follow
So give it back

In my bed
Sleeping not
I cannot explain what’s in my head
Longing for an empty thought
But I seem to think of you instead

You blew my mind away
And I can’t let you go
Took it and ran away
Just had to let you know
Just dropped a line to say
that I lost all control
You blew my mind away
In my head
And in my heart
I cannot complain, no one competes
Longing for this pase to stop
Never been the same since you
loved me ~

You blew my mind away
Now that I’m torn apart
Took it and ran away
Is when you come for my heart
There’s nothing left to say
And I don’t know where to start

Give back my thoughts to me

Gaelle

sábado, janeiro 14, 2006

Sexta-feira 13

À cidade de todos os meus dias, desde sempre.


Ando na berma
Tropeço na confusão
Desço a avenida
E toda a cidade estende-me a mão
Sigo na rua, a pé, e a gente passa
Apressada, falando, o rio defronte
Voam gaivotas no horizonte

São montras, ruas
E o trânsito
Não pára ao sinal
São mil pessoas
Atravessando na vida real
Os desenganos, emigrantes, ciganos
Um dia normal,
Como a brisa que sopra do rio
Ao fim da tarde
Em Lisboa afinal

Só o teu amor é tão real
Só o teu amor…

Pedro Campos

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Todas as palavras

E o que importa tudo isto, se o fim disto não for contigo?


As que procurei em vão,

principalmente as que estiveram muito perto,

como uma respiração, e não reconheci,

ou de súbito desisitirame partiram para sempre

deixando no poema uma espécie de mágoa

como uma marca de água impresente;

as que (lembras-te ?) não fui capaz de dizer-te

nem foram capazes de dizer-me;

as que calei por serem muito cedo,

e as que calei por serem muito tarde,

e, sem tempo, me ardem;

as que troquei por outras (como poderei

esquecer o seu olhar?);

as que perdi, verbos e

substantivos de que,

por um momento, foi feito o mundo

e que se foram levando o mundo. E também aquelas que ficaram,

por cansaço, por inércia, por acaso,

e com quem agora, como velhas amantes sem desejos, desfio memórias,

as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Gente da minha terra

"Há alegria nalguns encontros; existem memórias percorridas pela melancolia. O tempo - é saber antigo - voa. Hoje, o Sol castiga pelas calçadas, amanhã, o vento torce as árvores nuas.

Que mais oferecer que a entrega dos dias à recordação de algumas vozes?

A sombra de uns versos, que nunca mergulha nas águas do mesmo rio?"



Da tua voz o corpo

o tempo

já vencido

os dedos que me vogam

nos cabelos

e os lábios que me roçam

pela boca

nesta mansa tontura em nunca tê-los...

Meu amor

que quartos na memória

não ocupamos nós

se não partimos...

Mas porque assim te invento

e já te troco as horas

vou passando dos teus braços

que não sei

para o vácuo em que me deixas

se demoras

nesta mansa certeza que não vens.

Maria Teresa Horta

sábado, janeiro 07, 2006

Tão pó a pó

But not for me


Taken by mOle @ D70s - ESCS


Desistir do rosto, dos propósitos,
das palavras.
Há sílabas assim.
Com a vergonha do afecto
emprestada ao desalinho das mesas.

Por ali, encenando a imobilidade,
a rudeza de haver dor.
Eu sei que não virás.
Bebo por ti, sem ti, contra ti,
com o coração no bengaleiro
a fingir que não, não faz diferença.

E o pior é que até faz,
por muito que ninguém o saiba.

Manuel de Freitas

terça-feira, janeiro 03, 2006

Enquanto tento... (Can you?)

Os passos
Inundados de vícios
Os passos
Amiga em que outrora
Velavas o vento
Submissão de tudo
Enquanto tento.

As rugas no teu rosto
Dias entre noites
Passados por nós
Perdoando em sangue
Os beijos
Que morriam dentro da voz.
C.

Foto retirada de Olhares.com

segunda-feira, janeiro 02, 2006

O fim de 2005

"Não basta querer parecer,
É preciso Ser."



Mais um túnel em mais um tempo @ Porto


Entrego-me
Em passos sem destino
Até onde a fúria se acalma
Vou procurando a gente
Que à noite na rua cantava
E algo em mim sobrevive

Desesperadamente
Quero que por fim nos traga o sol
Andando pelo rio perdidos na claridade
Hoje só quero deixar viver este momento
Hoje só quero caminhar pela cidade.
Mafalda Veiga