terça-feira, novembro 29, 2005

Eternos porquês

Quem fotografa o antes de ter sido?
E quem desenha o mapa do acabar?
Falta o porquê o de onde o para onde.

Morremos de nunca ter sabido
morremos de tanto perguntar.
E só o poema às vezes nos responde.
Manuel Alegre


De que me servem os saltos na fogueira
E as lamas extensas ao acordar,
De que me servem as mendigas carpideiras
Sem que a bondade lhes possa sobrar?

De que me servem os livros cansados
As estantes dobradas no tempo,
De que se sustentam os beijos amarrotados
O lume firme e frio ao pensamento?

De que vontades feitos os mundos
Os lúgubres lugares, pouco a pouco
E de que me serve o teu amor veemente
Se o destino nos dobra o chão, feito morto.


E se depois do Adeus ficássemos só nos dois?
E se antes dos restantes banais
Os nossos corpos desiguais
A amanhecer.

E se depois de tudo isto
Ainda soubermos estar
Como pássaros tatuados
Pelas regras insípidas

Que se debruçam no olhar.


C.

domingo, novembro 27, 2005

Make every step easier...

Não costumo fazer este tipo de alusões neste espaço, mas ao fim de dez dias de ausência é inevitável explicar o porquê da mesma. A elaboração de um projecto para a Nokia Portugal preencheu cada hora desta última semana. O resultado está também nas fotografias, entre muitas outras, desta montagem. Um grupo único de dezasseis pessoas que se deram a este objectivo como nunca tinha sido possível quanto me recordo.
Difícil será descrever cada dia, cada madrugada sem sono em que o cansaço se misturava com a ânsia de ficar só mais um pouco, só mais uma linha, só mais um segundo. Tanto por acontecer num tempo tão curto e nós, tão perto, tão por dentro de cada um.
Foi uma experiência indelével. A amizade como força de um profissionalismo que aos poucos nasce em cada um de nós como se o futuro fosse cada vez mais ali.
Hoje confesso que me custou demais amanhecer sem vocês por perto, sem as acções para discutir, o café entre os banais ou o sonho por debater. Fazem-me falta os dias maiores que o tempo ou o tempo connosco.
Obrigada pela partilha, pela generosidade com que vincámos esta causa comum.
Há tempos precisos. Este marcou.



Faço para não pensar
Tento acreditar
Que é passado
Dou por mim a relembrar
Momentos que passamos
Eu e tu
Tu conseguiste
Marcaste-me com o teu jeito
O Tempo passa
E o que me faz querer voltar
Pôr o orgulho p’ra traz
Tudo o que eu quero é voltar
Pôr de parte as coisas más e amar
Finjo não estar nem ai
Mas lá no fundo sou doido por ti
A vida corre, não espera
O dia acaba e um vazio em mim
Dzrt (no comments, I know)

terça-feira, novembro 15, 2005

Just find a way...

Está escuro lá fora. A estrada vai ser mais longa assim, sem velas no olhar. Apagou-se o mundo nas minhas mãos, já nada me prende e tudo me consome. Apaguei-me no teu beijo enquanto te fugia. É hora de partir, não sei ainda por onde ir, em quem e como ficar. Talvez um dia aprenda, talvez nunca o saiba. Não sentimos todos o mesmo?
Não me perguntes quanto tempo demoro até longe de ti, mas sei que em nós o tempo chegou ao fim.
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Montagem by mO. @ Letra de Pedro Abrunhosa

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Try to fly away but it's impossible

And every breath I take gives birth to deeper sighs

And for a moment I am weak so it's hard for me to speak

Even thought we're underneath the same blue sky.

It's heavy on my heart

I can't make it alone

Heavy on my heart

I can't find my way home

Heavy on my heart

So come and free me

It's so heavy on my heart

I've had my share of pleasure and i've tasted pain

I never thought that I would touch an angel's wing

There's a journey in my eyes

I'ts getting hard for me to hide

Like the ocean at the sunrise

Love

Can you find me in the darkness?

And love

Don't let me down...

Anastacia

domingo, novembro 13, 2005

"Horas nuas..."

Vem, não tenhas medo, lança-te sobre essa menina que te sorri como eu e salva-a. Estou à tua espera num sítio onde as palavras já não magoam, não ferem, não sobram nem faltam. Esse sítio existe.

Inês Pedrosa

Taken by Verónica Silva

Horas nuas
Que se ausentam de mim
Por ti o tentar.
Gentes como ruas
Peles perdidas
Desejos em meninas
O rodopiar.

A verve da solidão
Nem sempre o certo estreita
As sombras ao tempo preenchido
Os hospitais de dor perdidos
Os papeis em combustão.

Nem todas as conversas te levam
Ao que de ti em mim sabe estar
Nem todo o amor será a esperança
Do tempo em que não sofras
Nenhum olhar.

C.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Falar-te de mim

Falo-vos hoje de mim. No fundo como sempre o faço em cada poema, em cada palavra, em cada foto ou respirar que aqui, quase diariamente, vos deixo.
Tenho esta mania inata de fugir do que - e de quem - me assalta para depois, mais tarde, sangrar versos a fio. Quem me manda o silêncio ou a solidão, a fuga das pessoas e das coisas que me tentam o não estar só comigo e em mim. Tenho medo… Nem sempre suporto o tanto que me transborda e o nada que fica. E é nesses instantes em que preciso de me sentir viva e parte do mundo, do meu mundo.
Do meu Porto.


Falar-te do Porto regateando as esquinas
Pedindo mais das ruas
E menos de partidas
Falar-te da cidade de forma desigual
O café diferente da estrada
A luz que faz estreita a Afurada
O olhar diferente do banal.

Falar-vos de mim
Dizer aos espelhos que me cortam as mãos
Que destas lajes e deste rio
Só os textos jazidos no chão
Quebrando as margens do corpo vadio.

Embriago-me para não querer
À falta do abrigo um prédio fechado
Embriago-me para esquecer
Mais de tudo - e isto que é só
O Porto em mim chorado.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Top secret

E voltas a cordar, não consegues adormecer, estás todo suado, a noite é mais antiga do que tudo.
Carne sobre a carne, o peso. Na imaginação tudo corre lentamente. Uma coisa e depois outra, nesta ordem e naquela. Os corpos do avesso, os olhos fascinados, a luz é baixada várias vezes. Quando já não se aguente, não se consegue, há um alívio breve e é preciso sorrir ligeiramente porque o tempo perdeu qualuer urgência. Oprazer esgota o desejo por enquanto até recomeçar, uma e outra vez o doce trabalho, os corpos quietos exaltados a escorrerem a água de que são feitos.
A noite é tão antiga e nunca acaba...


Fecho os olhos e vejo-te. Vens a mim quanto te não quero. Há coisas que se não devem querer. Tu és uma delas, doce veneno.

Agora já não há segredos. Corremos sem saber se vamos a tempo de saltar. Se queremos.

Nesta experiência precipitada, imprevisível. De noite. Pequenos nadas.

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Pedro Paixão

quarta-feira, novembro 02, 2005

Amsterdam

em cada gole a sede

a loucura que esfria as mentiras levadas

doi-te de ontem a tatuagem a negro

no afecto que te estreita ao meu segredo

Queimando a razão às rimas fechadas.

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O mundo mais perto.

O pedalar veloz dos dedos

sobre as folhas além dos medos

sobre os cromados de luz

.

Tu mais perto.

lampejos de saudade

ausências por te pensar

E o teu beijo no meu

entreaberto.

"Não afastes os teus olhos dos meus..."