terça-feira, dezembro 28, 2004

Coliseu do Porto @ 04 Posted by Hello



"Doces instantes de paz que o coração acelera e a mão agarra sem sentir... (...) É por mim o barulho, por ti o lasso sossego do mergulho."
Pedro Abrunhosa

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Roma

De todo um mundo que se descobre quando se decide partir com uma mochila às costas e uns mapas nos bolsos, hoje destaque para esta paragem. Roma, cidade onde a história se enrola nos passos, no olhar, nos dedos. Muitas e longas horas de solidão a contemplar este império que hoje me ilumina a doce memória.
E porque a poesia está em toda a parte...


Ritorna all vento della poesia
che non ha speranza
ma vive giorno per giorno
calcando la ossa di vecchi
e antichi profeti.
Ritorna alle montagne ardenti
della solitudine
che ti bruceranno il corpo
e la voce.
Ritorna ai quotidiani tormenti
ma sappi che la solitudine
è lúnica donna
che non ti abandona.

Alda merini


Coliseu de Roma @ Agosto 04 Posted by Hello

sábado, dezembro 25, 2004

Natal

Pelas ruas já a quimera se desfez em papéis rasgados que cobrem os lixos tardios. Ficou no ar o cheiro de uma noite que tanto se repete como falha, em jogos, as presenças. Dos meus percursos o vaguear solitário pelas ruas, enquanto espreito as janelas recheadas de famílias correndo de lá para cá, como os momentos que se pedem. Qual verdade não pulsa o aconchego quando tudo se reune ali, em prol da magia. Fico entre a saudade e a véspera, antecipada, de que a noite termine e as luzes se apaguem, para que não tenha de ver o que não é meu.
Silêncios. Beijos que se despedem e quiça o abraço fugaz. Recolho-me. Agora é da janela que pernoito as famílias que se perdem, seja desejo ou ternura.
É Natal, dizem-no. E eu que nunca o soube acontecer.

C.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Em que nome? Posted by Hello


Mais só que a solidão
Pelas ruas em que me deixo acontecer
Não sei se esquinas, se prazer
As horas que escondo
Ao acordar.

Versos nos versos que a mão não disse
Como as lágrimas que fingias que sim
Inacabados – os cheiros
Quando os corpos se despedem
Mais do que a tortura ou só
O que é de mim.

Deixei-me
A dizer-te o olhar
Quando o amor é a razão
Que se escurece
Escutar os dias,

Em redor
Quando eras maior
E mesmo assim te apetece.

Choram colinas
Quais horas tecidas
Mais uma mulher…

Sonham as ruas
Os teus braços de lua
Para nunca mais
Acontecer.


Porto - Campanhã
19.12


...Até sempre*

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Mágoa

Pai, que não conheci (pois conhecer não é
Este engano de dias paralelos,
Este engano de corpos distraídos,
Estas palavras vagam que disfarçam
O intransponível muro):
Já nada me dirás, e eu não me pergunto.
Olho, calado, a sombra que chamei
E aceito o futuro.

"Aniversário" de José Saramago
in
Poemas Possíveis


...porque é isto que a Poesia me dá. Este encontro calado e certo com o mais intímo que há em nós, sem termos de o dizer.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Chegada a Veneza de comboio numa madrugada qualquer de Agosto/ 04 Posted by Hello


O tempo que a gente perde pela vida a correr
O tempo que a gente sonha que é chegar e vencer
O tempo faz de nós um copo p´ra beber em paz
O tempo é um momento para nunca mais
O tempo mesmo agora fez a terra girar
O tempo sem demora trás as ondas do mar
O tempo que se inventa quando nunca se é capaz
O tempo é um carro novo sem marcha-atrás

Voei para te dizer
Sonhei p´ra te esquecer
eu sei não vais parar para eu crescer
Eu sei esperei demais.


Miguel A. Majer

sábado, dezembro 11, 2004

Se ao menos um poema...

Sossega a casa. Cheira a fim. Não sei se a um fim definitivo, mas isso não importa, importa o que sinto e o que sei hoje, agora, aqui. Tendo ou não acabado, fechei um ciclo ao qual não vou conseguir regressar mais. Diminuí os problemas, aumentei a dor. Quem me dera não ter de crescer mais, nem outra vez, nem tão pouco perceber que não há quase nada que valha a pena, mesmo antes de viver.
Talvez seja o que doa mais, o saber antes de ser e por isso nunca deixar que aconteça. Formei-me assim, sou assim, paralela a medos e fugas que me distanciam do real. E hoje trago tão pouco que seja meu...

Se ao menos um poema
te abrisse a janela
no desarvorar de um qualquer vento
onde os cabelos voassem
ao encontro do sorriso amanhecido
sem dor.

Se ao menos um poema
fosse um piano, o céu, o chão
fosse o abraço indolente
a agarrar-te no mundo
como uma mão

Se ao menos um poema...
Se ao menos o fundo do mar
reflectido na cor do Sol

Se ao menos o dia acordasse
sem a chuva do olhar.

A.M.


...E se ao menos tu soubesses o quanto a luz por ti existe*

Obrigada A., por fazeres parte de tudo isto.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Faltas-me. Todos os teus passos tantos anos presos aos meus como se de um só se tratasse. Faltam-me as longas tardes entre as tuas paredes, de comédia e de ternura em que todo um mundo crescia por nós. Falta-me o teu cheiro todos os dias no meu pescoço, ou alguém com quem descubra a vida como tu me ensinaste a maré.
Não te sei escrever ou descrever, nem tão pouco te agarrar nas palavras que se desencontram de ti fintando a morte. Voaste para vencer e mesmo pousado em mim, não encontro a razão que me detenha.
De todas as quimeras só a tua beleza, indelével, nos mais perfeitos rasgos de amor que encerro no tempo. E só tu sabes, e só tu sentes tudo aquilo que hoje, sem ti, já não sei ser.
Arde o tanto conforme te penso, redundante o poema. Não me acomodo à saudade com que colas os dias e preciso-te, mais do que te tenho.
Volta, André… e traz-me. Tu que sempre Foste. Porque preciso tanto, tanto de nós…

Dama do Luar
Tu... Posted by Hello


Decomponho os astros
À noite, tento encontrar o céu.
Num derrame súbito, vermelho véu
Assalta o coração, devora os astros.

A chuva de ideias que mantém a vida
Decai, rouba, rompe e mata.
Coruja distante, longínqua, inapta
Forma de viver, esta minha.

Trás o teu véu, oh coruja, oh noite!
Embrulha-me no desalento
Finda esta minha sorte.

Devora-me por dentro
Um não-sei-quê de existir, noite
Sorte minha, Morte nos braços, Abraços na morte.
_ André Vicente _

domingo, dezembro 05, 2004

Destrói-me

Vem,
Segredar aos segredos os teus medos
E partir, depois
Quando o dia se deixar usar.

Encanta
As mentiras que eu já sei - e escondo
Em ti no exímio
Deslumbre do olhar.

Despe primeiro a pele - e engana-me
Destrói-me para que seja real
Saber-te, ter-te ou deixar
Restos de desejo no beiral.

Debruça-te,
E logo serão vincadas
As arestas desdobradas da manhã
Vendes os casacos
De peles nuas
Rasgas os beijos
Despedes as ruas
São refúgios doridos
que sempre sofremos
Quando não nos sabemos
Ter em mim.


C.

Destrói-me Posted by Hello

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Dá-me

Silêncio Posted by Hello



Dá-me a tua mão
Dá-me a tua mão: vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe
entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo
e que é a linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois factos existe um facto,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo,
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.


Miguel Torga

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Gestos

Porto @ Passagem de ano 2003/04 Posted by Hello


Onde sobram as peripécias já frias
Quando o comboio ao longe define
Quem não pensa o sentir.

Quem me finta
De olhos postos em ti
Muralhas e sombras em que existo
Desta ou de outra forma
Pelas palavras em que nasci.

Será que o inferno regista o amor
Quando a memória se esquece
Que a dor são só os gestos
Sempre mais do que apetece?

Onde se voltam as costas
ao terno sentido
Em que as lágrimas escrevem
E as folhas bebem
O silêncio amadurecido?...