sexta-feira, setembro 29, 2006

O que não se diz

Conversa de Café
O senhor importa-se que eu lhe conte a história da minha vida? Há sempre um dia em que temos de contar tudo. Mesmo que depois acabemos arrependidos. Se bem que eu, não sei porquê, nunca fui muito de arrependimentos.




O teu riso, agora em arco-íris, ilumina essa criança que ainda não conheço, que não sei se algum dia quererei conhecer. Talvez o riso seja mais contagioso do que a dor. Talvez. Mas, por agora, dou as mãos à memória da tua voz para regressar a casa, dançando do passeio para o asfalto as canções de Nova Iorque que tu cantavas por cima da minha voz, quando eu te ralhava. Por agora, danço entre os arranha-céus até que eles se diluam, danço como se tu pudesses renascer da água dos meus olhos, inundada de luz.
Inês Pedrosa
"Fica comigo esta noite"

segunda-feira, setembro 25, 2006

Hoje (mais do que sempre)

Nao importa
Se às vezes tudo é breve como um sopro
Nao importa se for uma gota só
De loucura
Que faça oscilar o teu mundo
E desfaça a fronteira
Entre a lua e o sol.

Max @ Porto taken by CM


E hoje mais que qualquer outra noite
Ha qualquer coisa que me fere
E que me faz querer tanto ter-te aqui.
Mafalda Veiga

quarta-feira, setembro 20, 2006

Qual de nós?

Quero ser mais. Testar a própria sombra. Discutir com ela os segredos do romance ou o poema ainda por terminar. Ler para ser fugindo aos gestos. Aflitos que são entre as palavras, entre os silêncios. Quero o incêndio ainda agora, como a liberdade que escrevo e reescrevo.
São já esperas demais.

Cafeína @ Porto - Efeitos by VP

"Exactamente como foi, o medo de me enganar
mais tarde na memória - é tudo o que me resta: estar
de noite às escuras a pensar em ti..."

Ana Luísa Amaral

quinta-feira, setembro 14, 2006

Onde tu estás é sempre o fim do mundo...

Procurar de ti mais do que a poesia,
as coisas que sobram vastamente do teu olhar.

Saber, se soubesses
como amo o que fica em mim dos teus olhos,
esse incorruptível cheiro que fico sorvendo
até a noite enfim me adormecer.

Pudessem os meus olhos repousar
cansados já que são da luz do dia,
no interior das tuas mãos cerradas
e nelas permanecer até
ao quebrar do dia
e em ti, por fim, anoitecer.
Alexandra Malheiro

segunda-feira, setembro 11, 2006

Noites Lisboetas

- Já reparaste que nunca me dizes nada?

- Aprendi a respeitar o espaço que me pediste.

- O Espaço?..

O eSpAççççOooooO
o EsPaaaAAaaaççÇÇÇOOOO

O EsssSSssppAaççOo
o EsssSppPaaaÇooo

Sufoca-me!

sexta-feira, setembro 08, 2006

Volver

Há quanto tempo, tudo isto? Abro o armário onde o tempo antigo se enche de bolor e fungos; limpo os papéis, cartas que talvez nunca tenha lido até ao fim, foto- grafias cuja cor desaparece, substituindo os corpos por manchas vagas como aparições; e sinto, eu próprio, que uma parte da minha vida se apaga com esses restos.

Nuno Júdice

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olhares.com

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"Voltar".
como se não existisse
regresso.
há esperas demais entre nós
(e mil viagens sem nexo)

"Sentir".
O chão quente de ternura
em toda a parte
os teus passos fazendo os meus
espírito de arte.

"Viver"
Pensando sem querer que é possível
os telhados serem o céu
e eu também
e tu quem
(voltaste?)

domingo, setembro 03, 2006

"O encanto desse olhar..."

"Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar..."

Vinicius 90 anos

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pego num cigarro, fumo-o sofregamente. desejo-te ainda. se o telefone tocasse, se batessem à porta, se me apetecesse sair daqui. já não estou contigo nem com os outros. eles estão vivos, movimentando-se. eu não sei se estou vivo, imobilizo-me. os cães ladram junto à janela, ouço-os cada vez mais longe.

Al Berto