quarta-feira, agosto 31, 2005

Segredos que ardem


Queria devorar-te dos livros
Como segredos a arder dentro de mim
Queria separar as palavras dos vestidos
Os vestidos dos dias
Os versos do fim.

Queria não perceber
Mais fundo o sentido das coisas
Quebrar-te nos vinis arrumados
E poder escrever
Respirar sobre o vidro
Sobre os papéis amarrotados.

Queria o que não posso
Amanha quem sabe ou então
O mar em sopro, o vento nosso
Toda a esquina numa vida
Toda a vida sem perdão.
C.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Silêncios

Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.

José Agostinho Baptista





Não será o tão pouco disto que trago em mim após tantos dias de ausência, mas sim o que em mim se faz estrada em tantos anos assim.
Só o silêncio que póssui longa a madrugada, qual ditado vadio preso nos dedos. E de repente como se amanhã uma mala se fizesse para nunca mais. E constante é o regresso depois.

Ou este silêncio para lembrar.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Sempre

Preciso escrever-te. Porque é em dias como estes, que sinto ainda mais o quanto és especial.(...)



(...) Preciso de ti na minha vida. Hoje e sempre. Naquela presença que me enche o peito e me dá forças todos os dias para acordar.
E a vida será sempre uma folha em branco, que todos os dias te irei escrever em sorrisos e em lágrimas que teimam em não parar.Quando te sentires trapo, sabes que em mim não és menos que cetim. És o vento que conduz o meu voou. E como adoro voar contigo.... Fico em ti.

E em ti fica a minha vida.

Verónica Silva

quarta-feira, agosto 10, 2005

Junto a ti

Agradeço a Amizade todos os dias. A tua, a dele, a nossa… Os momentos carregados de partilha, de cumplicidade, da paixão nas horas que tardam o entardecer, em todo o tempo discreto ou dorido, conforme, os passos que me estreitam a todo e qualquer beijo teu. Agradeço as pessoas que são em mim e me fazem sentir o que basta dentro da verdadeira amizade. Que sabê-la verdadeira é conseguir tocar o invisível da presença, ouvir sem que o som exista e permanecer uma noite, um dia, uma vida presa ao papel do açúcar daquele chá, ou à rosa seca que não mais se separa das mãos.
E as mãos, sim, as tuas, guardadas no eterno amor que devora o país e se estende a um abraço de madrugada. Não de despedida porque o adeus é em tudo isto ilusão, mas de uma vontade gritante de ficar, sempre. E para sempre.
Junto a ti.


Atlantis @ Vilamoura

Aquela clara madrugada que

Viu lágrimas correrem no teu rosto

E alegre se fez triste como se

chovesse de repente em pleno Agosto


Ela só viu meus dedos nos teus dedos

Meu nome no teu nome e demorados

Viu nossos olhos juntos nos segredos

Que em silêncio dissemos separados


A clara madrugada em que parti

Só ela viu teu rosto olhando a estrada

Por onde o automóvel se afastava


E viu que a pátria estava toda em ti

E ouviu dizer adeus essa palavra

Que fez tão triste a clara madrugada

Que fez tão triste a clara madrugada

Manuel Alegre

sexta-feira, agosto 05, 2005

Liberdade

Viajar sempre foi, para mim, a mais bela forma de devorar um livro cheio de histórias, de cheiros, de gentes anónimas num mundo que é enorme e se vai construindo aos meus pés. Amo e sou cada frame de estrada que me leve a outra língua, a outra cultura, a outro presente que não o meu. Amo as estações de comboio, o amanhecer estreito ao rio que se descobriu na véspera ou ao deserto gasto da minha sede de ir.
Porque em cada viagem um pouco mais de mim. Porque em cada cidade um poema. E em cada poema a liberdade.
Paris @ Agosto 2004
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raíz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues
Até breve...

segunda-feira, agosto 01, 2005

Poema do eterno retorno

(...)

E fugimos do céu para esquecer
A memória que aos dois se despedia
Molhámos os lençóis para querer
Mais vezes a vez do mesmo dia.

(...)

C.



Há o teu rosto dentro do teu rosto: único e múltiplo.
As tuas mãos de outrora nas tuas mãos de agora
há o primeiro amor que é sempre o último
antes do tempo ou só depois da hora.

E vinhas de tão longe. E era tão fundo.
Eu conheço-te. E era por mim. E era por ti. E era por dois.
E havia na tua voz o princípio do mundo.
E era antes da Terra. E era depois.

Manuel Alegre