Folha em Branco
quinta-feira, março 31, 2005
domingo, março 27, 2005
Ausência
Falava, despia-me inteira ao corte da ausência de que filmava os dias longe de ti. Não sei que relação ou que maresia me faziam percorrer tanto da estrada que me mordia, para chegar ali e tu não falares. Talvez de bom fosse o reflexo da minha voz em ti, como se as palavras ditas ao teu lado ganhassem maturidade na magia, e se aclarassem no meu universo. Era estranho.
De vez em quando, nem todos os dias, traduzias dos olhos a ternura já gasta, como que num acto inconsciente para eu te ter. Apagavas a vela com as mãos, deixando que a noite não ficasse vincada em lado algum, até o cheiro ardia.
Marginal de Leça da Palmeira
Tardei-te na ausência sem que nunca me apercebesse o quanto o teu breve olhar me precisava. E se algum dia me perguntei se te sabia, logo a resposta me fugiu.
Hoje, quando cheguei, já não estavas. Prolonguei as lágrimas pela vela que quiseste arder, enquanto esculpia, num acto louco, o teu corpo nos meus dedos.
Preciso de voltar a escrever-te, dizer-te que eu choro quanto te leio nas minhas mãos e logo te pernoito na ilusão. Porque afinal ouvias e estavas. Sempre. E hoje há algo em mim que não tolera que o último beijo não seja mais a tua voz.
Será que voltas?
Alguém em mim que não aquela que conheces
sexta-feira, março 25, 2005
Estou além
Vou continuar a procurar
Porque até aqui eu só:
Porque eu só quero quem
Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar...
António Variações
quinta-feira, março 24, 2005
Hora de almoço
segunda-feira, março 21, 2005
Sem nome
Talvez por não saber falar de cor imagineiTalvez por saber o que não será melhor aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós
Sei lá eu o que queres dizer
Despedir-me de ti, adeus um dia
Voltarei a ser feliz.
Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim
Olhar para mim e escutar quem sou
E se ao menos tudo fosse igual a ti.
sexta-feira, março 18, 2005
Blogs Paralelos
Há momentos que se cruzam, como as palavras que sempre me dás perto do sonho. Outro dia cruzei-me contigo, falei-te de olhares sem que percebesses e ao sorriso deixei-te uma linha interminável cheia de nós. É vermelha, por acaso. Poderia ser de outra cor qualquer. Talvez azul.Tu sabes porquê.
À Xana,
Linha Vermelha II
Não há sonhos derramados
Antes da escuridão
Mas há, nos teus olhos
Peitos chorados
Ao redor da multidão.
Atravesso demais para que possa
Ser sombra e maré dentro de ti
Arrisco o passo para que esteja
Entre a linha vermelha
E o nada que te sorri.
Há versos na angústia desmentida
Um abraço que morre desfeito
Sobe ao azul, e logo é minha
A tua dor selada ao peito.
De todos os caminhos
A linha é igual
Vermelhos os sentidos
Antes de te perder
Do outro lado do sorriso
Quem te precisa...
E te obriga sem pressa a amanhecer...
C.
terça-feira, março 15, 2005
Pele suada
Se soubesses todos estes gestos
Mais longos que a própria nitidez
E depois, eu arrumasse os manifestos
Raízes vencidas
Ou a minha nudez.
E se a pele não ardesse
Toco-te. Não sei
Como se nada acontecesse
E de mim só tu
Como a esfera e o desdém.
Ai se eu soubesse
Guardar-te o grito sem sofrer
E mais tarde, e mais longe
Deixar o verbo permanecer.
Amor. Talvez tudo isto
O negar-te sabendo
Que bebia da tua pele,
do teu cheiro
Como um amante escurecendo
À luz do dia inteiro.
quarta-feira, março 09, 2005
Escuridão
Zumbia o teu sopro e eu ficava, fitando a luz na escuridão.Como sombra dos regaços
E talvez do existir.
Quem eras
Quando entrámos lado a lado ao anoitecer
Numa varanda esculpida
Numa cidade qualquer.
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"Porque não sei como dizer-te sem milagres Que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,
que te procuram."
Herberto Helder
terça-feira, março 08, 2005
Não mais
Nas veias do silêncio que perdemos
A cada verso novo em nós sentida,
Nas asas que outras são e que não temos
Em cada espaço por nós consentido.
domingo, março 06, 2005
Uns versos
Sou sua noite, sou seu quartoSe você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele,
O seu casaco
Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o sou paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo
E depois rasgo.
Cafés
Self-portrait @ Taken by Sister
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
quarta-feira, março 02, 2005
RoSe_
O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo, mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,que eu amava quando imaginava que amava. Era a tuaa tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto. Era a tua pele. Antes de te conhecer, existias nas árvorese nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde. Muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
José Luís Peixoto
"E porque não minto, sou um labirinto."
José Gomes Ferreira